Ver e ser visto

QUANDO OS FOTÓGRAFOS SOCIAIS ERAM AMIGOS DE CASA E FAMÍLIA

A propósito de um ´boneco´ na revista LUX nº. 1242 de 19 fevereiro 2024 (obrigado ao seu Diretor Carlos Gonçalves), na ocasião de um jantar promovido pelo blogue In Parties, no Hotel Meliá Aeroporto, autoria do repórter-fotográfico Paulo Fernandes, referência da época do social do ´beautiful people´ apelidos que comportavam nomes de ruas, cidadãos que começavam a regressar a Portugal dos exílios que o totalitarismo revolucionário os tinha obrigado.

Fotos na revista LUX são do repórter-fotográfico Paulo Fernandes.

Os fotojornalistas tratavam-nos pelos nomes de família, em sentido contrário, eram perseguidos pela turma ´neveaux riche´ que subira o elevador do social até ao miradouro, impulsionados por cartões ‘golden’ com avantajados plafonds, deixavam chorudas gorjetas que faziam magia, qualquer ‘mâitre’ fixava o apelido. Um apelido até ao momento desconhecido, ficava inscrito em maiúsculas nas garrafas de whisky abertas, sobravam ainda os “paraquedistas” que na ‘litle saison’ corriam às praias de Vilamoura, frequentavam o Libertos Club na Oura, o Sete Café (um dos sócios Luís Figo), na Marina de Vilamoura, a discoteca CR7 no Tivoli Marina ou tentavam aceder à Casa do Castelo, Albufeira, em épocas de férias dos galácticos, esforçavam-se para ser caçados por uma objetiva ao lado dos craques.

A OLÁ!, a revista que vinha “embrulhada” no O Semanário.

O desejo de “aparecer” levava bronzeados da Caparica a descer em diretas ao Algarve para as Festas de Verão, mudavam de ambiente, mudavam a toilete. Aos primeiros raios do novo dia regressavam a casa, mais tarde nas páginas cor-de-rosa iriam sugerir estadias prolongadas… Os novos ‘In’ desesperavam, mexiam cordelinhos por convites para as “Festas dos Mais Elegantes do Ano”, no Banana Power, “Festa do Champanhe” no T Club de José Manuel Trigo, Quinta do Lago, onde o fotógrafo Florindo Dias chegou a usufruir exclusivo, aniversários dos aristocráticos Clube Stone’s, Lisboa ou Clube Twins, Foz, Porto. As presenças de divas da Rede Globo, ativavam a indústria do luxo, alimentavam a indústria do entretenimento e as vendas de títulos nas bancas.

Imagens de uma época que ainda perduram: um cruzeiro onde um lenço vermelho amarrado à testa ficou famoso.

A OLÁ! revista do jornal O Semanário, O Diabo da querida Vera Lagoa, O Quê?, Em Voga, Casa & Jardim, HOMEM, CARAS, LUX, FLASH!, VIP, Revista do EXPRESSO, coluna de Vítor Rainho, a ÉLAN de Alexandre País, uma publicação interessante, ninguém lia, mas esgotava para leitura no escritório. Em declarações à revista SÁBADO (nº 909 de 5 a 11 agosto 2021) para o conteúdo “Quando os Ricos Saíram do Armário” dadas garantias que nenhum nome de políticos, aristocratas, banqueiros, altos magistrados, empresários, seria citado, fiz algumas declarações, ajudando a escrever histórias de noites saudáveis, marca dos anos oitenta, irrepetíveis. Os fotógrafos do social sempre estiveram lá, ativos de uma indústria glamorosa, também viveram sacrifícios.

A imagem de um lenço vermelho que ficou para a história.

O Stone’s (fui seu Diretor depois de Manecas Mocelek), ficava na Rua do Olival, descendo a Rua de São Caetano à Lapa, ao fundo da antiga sede do PPD/PSD quando aconteciam reuniões «laranja» vestiam a pele de paparazzi, esperavam a oportunidade de ‘flagrar’ um líder político a entrar num Clube de porta fechada, onde também era normal ir cear. O Stone’s servia o bife mais desejado de Lisboa na época. Um ambiente que em ocasiões misturava políticos, Diretores de jornais, Editores de política, Jornalistas-sénior, era uma fonte de notícias…

A visita do futuro Rei de Espanha a Lisboa, depois, seguiu para o Algarve para um fim de semana romântico.

Os fotojornalistas carregavam o peso das máquinas, tripés, flashes e baterias. Acontecendo fotografar uma socialite com uma peça de uma nova coleção, aumentavam as vendas em lojas. As marcas contraíram dividas com estes profissionais, serviam interesses de Estilistas que emprestavam peças para Festas de Luxo a artistas e modelos das passerelles, serviam a indústria do Turismo, restauração, viagens. O Club Springfellows de José Manuel Simões, projetado por Fernando Jorge Correia [Primorosa de Alvalade e Salão Preto e Prata do Casino Estoril] para o lote seleto das discotecas mais deslumbrantes da Europa, interiores exclusivos, mármores negros, aço, cabine disco jockey em elevador (fui seu Diretor para a promoção e marketing), depois das festas e bailes Schlumberger em Colares e Patiño em Cascais (1968), voltou a colocar Portugal no radar social internacional. A inauguração do Springfellows foi objeto das câmaras da HOLA, Paris Match e outras publicações europeias. Aristocratas e colunáveis que elegiam Marbella e sua Milla de Oro, para praia e noites de diversão, promoverem o destino Lisboa e a Linha do Estoril, deslocando-se num comboio com mais de quatorze limousines, viram, foram vistos e fotografados…

Juan Carlos (‘Juanito’ em Cascais) capa da revista Member´s.

Uma época onde em privado o champagne jorrava para quem era quem, terminou. O Springfellows demorou anos a ser construído, quando entrou em operação a economia já revelava sinais de arrefecimento. A Autoridade Tributária espreitava nas revistas cor-de-rosa, sinais exteriores de riqueza, iates e descapotáveis. As discotecas com acesso por cartões Vip, longas filas, veludos nas decorações, cadeirões desenhados para o conforto dos corpos, porteiros e colaboradores que atendiam de smoking, eram barrados ténis Boss ou Prada, entraram em declínio, nunca mais ministros cantaram fado em jantares no Clube Reservado do Banana Power, ou jogaram gamão até o Sol nascer, nem multidões acorreram à Estação de Campanhã, para verem chegar Bruna Lombardi e o marido Carlos Riccelli, numa carruagem especial da CP para a inauguração do Members o restaurante do Twins. O nome recorde-se, aludia ao Members Club Of Clubs, uma rede mundial de discotecas para famosos, onde Portugal inscrevia três referências, Banana Power, Stone´s e Twins.

A Quinta do Lago ´refúgio’ de Pinto Balsemão, um assíduo da Festa do Champanhe no T Club.

Os fotógrafos e flashes foram parte da festa e do plateau de cena, estiveram sempre lá, parceiros de negócio, sem direito à distribuição de lucros e retorno do investimento. Hoje ‘Influencers’ sem Carteira Profissional, com smartphones com três câmaras triplas instaladas, fotografam-se em presenças, inaugurações ou promovem coleções. Editam no momento para as redes sociais Facebook, YouTube, X, Instagram, fazem em avanço o trabalho da imprensa, emagrecem redações, incluindo fotojornalistas, reduzem as tiragens, retiram do mercado edições em papel, somam património e fazem fortuna com selfies…